quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Romance de Tese do Naturalismo


Por Alana Nascimento Barros*

RESUMO:


Este trabalho objetiva fazer uma explanação sobre o naturalismo, analisando algumas personagens da obra “O cortiço”, de Aluísio de Azevedo, e delas extraindo alguns dos aspectos caracterizadores dos romances de tese do naturalismo.


Palavras-chave: Naturalismo, Romance de Tese, O cortiço.



INTRODUÇÃO:

O naturalismo é uma escola literária que se baseia na observação fiel da realidade e da experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e hereditariedade, influenciado pela teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. São características: a objetividade, a imparcialidade, o materialismo e o determinismo, que são as bases da visão de mundo.
Além de romances de tese, o naturalismo pode ser chamado romances experimentais, onde seus fatos são usados como experiências científicas e, assim, é apresentada uma conclusão.
O Naturalismo defende a exposição do ser humano através de seus instintos naturais, sendo estes responsáveis por seus atos. A literatura naturalista tem caráter reformista, uma vez que seus escritores passaram a analisar o comportamento humano e social, de maneira que eram capazes se apontar saídas e soluções. Antônio Cândido e José Geraldo Castelo (1994:286) assim explicam o Naturalismo:



O Naturalismo significa o tipo de Realismo que procura explicar cientificamente a conduta e o modo de ser dos personagens por meio dos fatores externos, de natureza biológica e sociológica, que condicionam a vida humana. Os seres aparecem então, como produtos, como conseqüências de fatores preexistentes, que limitam a sua responsabilidade e os tornam, nos casos mais extremos, verdadeiros joguetes das condições.



Os naturalistas acreditavam que o conhecimento se dá por meio dos sentidos e que a função do escritor é relatar por detalhes o que se observa. Sua teoria de vida era mais pessimista que a dos realistas. Mas o Naturalismo nada mais é do que o Realismo mais cientificismo da segunda metade do século XIX. Assim, encontramos todas as características do Realismo, exceto a análise psicológica das personagens.
A literatura naturalista surge na França com Flaubert e Zola. Flaubert é o primeiro escritor a pleitear para a prosa a preocupação científica com o intuito de captar a realidade em toda sua crueldade. Em 1857, Gustave Flaubert publica Madame Bovary, o primeiro romance realista da literatura universal e, em 1867, Émile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando, assim, o romance naturalista.
No Brasil, o primeiro romance naturalista publicado foi “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo, grande nome do romance naturalista no país, em 1881. Seguindo as lições de Émile Zola e Eça de Queirós, o autor escreve romances de tese com clara conotação social. Em suas narrativas, Aluísio valorizou os instintos naturais, comparando constantemente seus personagens a animais. Tais personagens são tipificados: o adúltero, o louco, o pobre, o homossexual, a prostituta, dentre outros.
Em sua obra “O Cortiço”, expressão máxima do naturalismo brasileiro, encontramos muitos desses personagens tipificados. Aluísio apresenta como personagem principal dessa obra, João Romão, português que pode ser encarado como metáfora do capitalismo selvagem, pois tem como objetivo principal, na vida, enriquecer a qualquer custo. Ambicioso ao extremo, sacrifica até a si próprio para alcançar tal objetivo. Veste-se mal e dorme no mesmo balcão em que trabalha. Observamos a intensidade da ambição de João Romão no seguinte trecho:



Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-e á labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privacões. Dormia sobre o balcão de própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro um saco de estopa cheio de palha. (AZEVEDO, 1998, pg.15)


Havia também a crioula Bertoleza, escrava que ganhava a vida vendendo peixe frito diante da venda de João Romão, este se torna amante daquela e passa a se aproveitar das suas economias, mentindo que havia comprado sua carta de alforria, investe em seus próprios negócios, construindo três casinhas, imediatamente alugadas. Encontramos essa passagem no seguinte trecho de obra:


João Romão não saía nunca a passeio, nem á missa aos domingos; tudo que rendia a sua renda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terra situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela.(AZEVEDO,1998, pg.17)



Com o passar do tempo, de três chegaram a noventa e nove casinhas e surge o Cortiço João Romão. Além de Bertoleza e João Romão, em “O Cortiço” existem várias outras personagens tipificadas. Esses moradores vão formar uma galeria de tipos extremamente rica, colorida. Cada personagem representa um mergulho nas diferentes taras. Há vários exemplos, como Neném, adolescente negra de libido explosiva que acaba perdendo a virgindade nas mãos de um empregado de João Romão. Havia, ainda, a adúltera Dona Estela, esposa do Miranda. Percebemos o adultério cometido por Dona Estela no seguinte trecho da obra:



Dona Estela era uma mulherzinha levada da breca: achava-se casada havia treze anos e durante esse tempo dera ao marido toda sorte de desgostos. Ainda antes de terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério. (AZEVEDO, 1998:19)


Sendo assim, no desenrolar dessa trama, vamos encontrando muitas outras personagens características do romance de tese do Naturalismo. Com seus desejos, ambições, taras e doenças, vão dando forma a este romance de tese tão consagrado da literatura nacional.



* Aluna do curso de letras da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. 33° ed. São Paulo: Ática, 1998.
CÂNDIDO, Antônio e CASTELO, J. Aderaldo. Realismo, parnasianismo, simbolismo. In: Das origens ao realismo. 6° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

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