quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Figura do Herói nas Obras de José de Alencar


Por:
Alana Nascimento Barros*
Ayla Nayra Luz Lima
Francismar Rodrigues Chaves
Marlus Jéferson Silva Bezerra
Raelle Heyde de Carvalho


RESUMO

Este trabalho objetiva fazer uma abordagem do romance indianista, procurando enfatizar a figura do herói (no caso, o índio) presente nas obras de José de Alencar. Procurou-se traçar um paralelo entre as obras O Guarani, Iracema e Ubirajara, descrevendo e comparando as obras entre si, centrados no papel do herói indianista em cada livro.

Palavras-chave: Romance Indianista, nacionalismo, herói, José de Alencar.


INTRODUÇÃO

O Romantismo marca o início de uma fase nacional da literatura brasileira. Inicia-se em 1836 com a publicação do livro “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães. No Brasil, o Romantismo adquiriu características especiais, defendendo razões e temas brasileiros expressos em uma linguagem nova, bem próxima da realidade do país. São Paulo é o centro irradiador do movimento, onde nas escolas superiores se desenvolvia intensa vida intelectual.
Apesar de diferentes, o Romantismo passou por três fases em sua evolução: a primeira fase é caracterizada pela volta ao passado histórico, com a criação do herói nacional, é a fase da geração indianista; a segunda fase, que tem por influência o inglês Lord Byron, é a geração Byroniana, marcada pelo egocentrismo, negativismo, características estas que manifesta o “Mal-do-Século”; e a terceira fase, que tem como inspiração Victor Hugo, por isso conhecida como a geração Hugoana, assume uma maneira social na luta em favor da abolição, da liberdade, do progresso e da república.
O romance é dividido por José de Alencar em quatro tipos: o romance urbano, que trata da vida nas cidades; o romance sertanejo, mostrando a vida no campo, no interior; o romance histórico, voltando aos séculos XVI, XVII e XVIII e início do século XIX; e o romance indianista, onde o índio representa o próprio símbolo de nacionalidade. E é neste último tipo de romance que predomina uma das características mais importantes do romantismo brasileiro, que é o nacionalismo.



O ROMANCE INDIANISTA

O romance indianista foi uma forma de similaridade à proposta européia da valorização do passado medieval. Definido em nosso romantismo como corrente literária, traz o índio e seus costumes como foco literário. Materializa-se no índio o “mito do bom selvagem” de Rousseau, ou seja, o homem é bom por natureza e o mundo é que o corrompe. Nessa figura do índio é que se constrói o herói, que para Massaud Moises (1974, pág. 272,273), este termo significa:


homem divinizado, filho ou descendente de deuses. Designa o protagonista ou personagem principal (masculino ou feminino), da epopéia, prosa, de ficção (conto, novela, romance) e teatro. Na antiguidade clássica, o apelativo herói era destinado a todo ser fora do comum, capaz de obrar façanhas sobre-humanas, que o aproximassem dos deuses. Equivalia aos semideuses, produto da aliança entre um deus e uma mortal. A grandeza do seu eleito se media na vitória sobre os obstáculos que a própria natureza lhe antepunha. Instintivo, genuíno, puro, ignorante das forças que possuía, conduzia-se impelido por um dinamismo que se confundia com o próprio ato vital. A sua semelhança, o herói literário se caracterizava pela valentia, a coragem física e moral.(...)


José de Alencar é o maior autor do Romance Indianista no Brasil. A imagem do índio em seus romances sempre se opõe à imagem do homem branco, pois este é “estragado” pelo mundo civilizado. Em sua obra, o indianismo, além de refletir o nacionalismo e a exaltação da natureza pátria, revela uma preocupação histórica. Seus romances de temática Indianista são três: O Guarani, Iracema e Ubirajara.
Esse autor vê o índio em três etapas diferentes: antes do contato com o branco, um branco comungando com o índio e o índio no dia-a-dia do homem branco. A psicologia e ações desses personagens são como os cavaleiros medievais. Esse índio representa nosso passado histórico, pois o modelo de herói criado deveria ser o passado e a tradição do país. E nessa visão o índio representa, na condição de habitante primitivo, o próprio símbolo de nacionalidade.
É com O Guarani que Alencar inicia suas obras Indianistas. Na verdade, ele é um romance de três tipos: histórico, romanesco e indianista. Mas, este último acaba predominando em seu conteúdo. Peri é um personagem produzido a partir de um enorme desejo de brasilidade e de paixão à pátria. Através dele, é feita a exaltação do índio, reunindo não apenas qualidades físicas aptas a fazerem dele um herói invencível, mas também a inteligência e os bons sentimentos que o transformam num verdadeiro rei das florestas, corajoso, dedicado e fiel. É ele, que junto com a família de portugueses, José de Alencar pretende mostrar o entrelaçamento das raças que dará origem ao brasileiro. Podemos ver essa figura do herói em:


Enquanto falava, um assomo de orgulho selvagem da força e da coragem lhe brilhava nos olhos negros e dava certa nobreza ao seu gesto. Embora ignorante, filho das florestas, era um rei; tinha a realeza da força (ALENCAR, 1999, Pág 97).


Tanto O Guarani quanto Iracema podem ser designados como romances fundadores, pois representam metaforicamente o início de uma raça. Em Iracema, a figura do índio aparece como herói romântico. Todas as imagens de que Alencar utiliza para se referir a protagonista são retiradas da natureza local, identificando-a com essa natureza, fazendo dela símbolo do Brasil:


Iracema a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira; O favo de jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado; Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu,… (ALENCAR, 1998, pág. 16).


De acordo com Arlindo Barbosa, Iracema representa simbolicamente, a América, cuja história se inicia pela exploração de suas riquezas pelos colonizadores ocidentais, os quais são representados no romance por Martim. Esse simbolismo já denota o cunho ideológico do romance, em que o explorador europeu vai suplantar o povo nativo da América.
Ubirajara é o outro romance indianista, que apresenta o índio no período anterior ao contato com o homem branco. Jaguarê, como se chama inicialmente o protagonista por já ter vencido o jaguar, pertence à tribo dos araguaias, e para que termine a sua formação para tornar-se o cacique de sua tribo, tem que demonstrar força, bravura, agilidade em combate, e só depois que derrota o chefe dos tocantins é que passa a usar o nome de Ubirajara, que significa "o senhor da lança". Podemos ver em um trecho do livro essa valentia de Jaguarê:

Pela margem do grande rio caminha Jaguarê , o jovem caçador. O arco pende-lhe ao ombro, esquecido e inútil. As lechas dormem no coldre da uiraçaba .Os veados saltam das moitas de ubaia e vêm retouçar na grama, zombando do caçador. Jaguarê não vê o tímido campeiro, seus olhos buscam um inimigo capaz de resistir-lhe ao braço robusto. O rugido do jaguar abala a floresta; mas o caçador também despreza o jaguar, que já cansou de vencer. Ele chama-se Jaguarê, o mais feroz jaguar da floresta; os outros fogem espavoridos quando de longe o pressentem. Não é esse o inimigo que procura, porém outro mais terrível para vencê-lo em combate de morte e ganhar nome de guerra. (ALENCAR, 1960, pg. 1140)


Para alguns autores, o indianismo alcança em Ubirajara a personificação da imagem do sentimento nacional. E ainda capta a necessidade brasileira de se afirmar como um espírito superior ao da metrópole.


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* Alunos do curso de letras da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ed. Ática, 1998.
ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Ed. Ática, 1999.
ALENCAR, José de. Ubirajara. Obras Completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. vol 4.
BARBOSA, Arlindo Lopes.Nacionalismo e indianismo em Iracema. Cefet-RN.
MARINO, Elda Randoli. Estudos de Português para o 2º grau. São Paulo: Ed. do Brasil,1980.
MARTINS, Eduardo Vieira. MITO ALENCARIANO. Universidade Estadual de Londrina. via atlântica n. 6 out. 2003.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 1 ed. São Paulo: Cultrix, 1974.
NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione,1998.

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